segunda-feira, 9 de junho de 2014

Todos os Caminhos vão dar ao Veganismo


Esta foi a conclusão a que cheguei passados dois anos e meio de me ter tornado vegana. A decisão e o momento de dar o passo dependem, em grande parte, da educação, interesses, experiências, valores pessoais e sobretudo da circunstância em que se é confrontado com as questões fundamentais à nossa existência pessoal e social.

O veganismo é visto, especialmente pelos não-veganos, como uma filosofia de vida, o que não será incorrecto ainda que me pareça uma ideia bastante redutora. Pelo que tenho apreendido ao longo deste curto percurso, trata-se da única forma coerente e positiva de se habitar o planeta. Todas as áreas fundamentais são tocadas pelo veganismo, designadamente a saúde, o ambiente, a justiça social ou a economia, sendo que o motivo que nos impele a nos tornarmos veganos é, sem qualquer dúvida, o respeito pela vida e liberdade dos animais humanos e não humanos. Um vegano rejeita produtos provenientes de exploração animal e humana, tanto na alimentação como no vestuário, na higiene pessoal ou da casa, na saúde ou no entretenimento, excepto quando não dispõe de alternativas - ou as desconheça - e que a rejeição desse produto possa de alguma forma colocar em causa a sua sobrevivência. Particularmente os medicamentos são um problema para os veganos, por, na sua maioria, serem testados em animais e conterem lactose na composição.

Ainda assim encontram-se frequentemente afirmações de que existem vários caminhos e motivos para se assumir o veganismo e, na realidade, os caminhos variam. É um facto que nem todos começam por mudar a dieta, contudo, o motivo será apenas um. É possível que uma pessoa assuma uma dieta estritamente vegetariana motivada por um benefício pessoal como a saúde, mas não será por esse princípio que deixará de consumir produtos testados em animais, de usar pele e pêlos no vestuário, de frequentar circos com animais, touradas, delfinários, aquários e zoológicos ou de rejeitar produtos provenientes de exploração humana. O veganismo não é uma dieta, vai muito além da alimentação, no entanto, não deixa de ser importante referir a saúde como um dos pontos que o torna possível.


ÉTICA – O Motivo


Qualquer pessoa que admire, sinta compaixão ou apenas respeite os animais, num momento da sua vida acaba, provavelmente, por questionar se existem diferenças fundamentais entre os animais ditos de companhia - os quais são habitualmente protegidos pelo ser humano - e os criados e mortos para lhe servir de alimento.

Algumas pessoas tentam encontrar formas de justificar esta clara desconexão, citando, entre outros, argumentos históricos, culturais, sociais ou até religiosos, enquanto outras compreendem rapidamente que tais argumentos não correspondem a mais do que desculpas e que o único primeiro passo sensato que qualquer individuo civilizado poderá dar, será optar por não os comer. As segundas, facilmente escalam para um entendimento mais amplo de que nenhuma forma de exploração de animais não humanos e humanos é moralmente justificável.


SAÚDE E NUTRIÇÃO – A Cereja no Topo do Bolo


Embora não seja este “o motivo” não podemos deixar de o referir como um excelente suporte ao veganismo. São já sobejamente conhecidos os enormes benefícios de uma dieta estritamente vegetariana na nossa saúde, a curto e longo prazo. Como resultado de sucessivos estudos científicos que comprovam, por um lado, os efeitos nocivos de uma dieta à base de proteína de origem animal e por outro o aumento de vitalidade e longevidade promovida por uma dieta vegetariana (proteína de origem vegetal), o argumento da saúde tem vindo a ganhar força, confirmando o que os veganos afirmam há décadas - Ninguém precisa de consumir produtos de origem animal para viver saudavelmente - na verdade, a adopção de uma dieta à base de alimentos integrais e vegetais é, sem dúvida, a escolha mais saudável.


AMBIENTE – A Vida do Planeta


À medida que o impacto das alterações climáticas se evidencia, torna-se óbvia a necessidade de agir por forma a evitar a destruição da Vida na Terra e consequentemente a nossa extinção. A indústria de produção de animais além de extremamente cruel é também a que mais polui o planeta, sendo responsável por 51% do total das emissões de gases com efeito de estufa, gastadora de recursos como a água (um pequeno hambúrguer consome o equivalente a 60 duches) e a principal causa da desflorestação da Amazónia (mais de 80% da soja cultivada destina-se à produção animal), pelo que quem pretende adoptar um estilo de vida sustentável e ecológico não pode deixar de questionar o impacto das suas escolhas alimentares no ambiente.


JUSTIÇA SOCIAL – Uma Questão de Consciência


Pela mesma ordem de ideias, quem expressa preocupação pela fome no mundo deverá repensar a sua dieta. Os vegetais, leguminosas e cereais produzidos para sustentar o número absurdo de animais criados para o consumo humano (70 mil milhões), seriam o bastante para alimentar cerca de quatro vezes todo o planeta. Nos países produtores e exportadores de cereais morrem crianças à fome, apenas para que, sobretudo, no Ocidente alguns satisfaçam a gula de comer carne e lacticínios, diariamente.

Se cremos que o mundo será um lugar melhor quando aprendermos a respeitar as diferenças e a valorizar o que temos em comum, acabamos por ter de enfrentar a injustiça que impomos aos animais apenas por conveniência, prazer e entretenimento. Quando nos opomos ao racismo, sexismo e a outras formas de discriminação com base na classe, orientação sexual, aparência física ou (in)capacidades, o veganismo pode ser encarado como uma extensão natural do conceito de igualdade, pelo que todos os animais humanos e não humanos devem coabitar o planeta, usufruindo do mesmo direito à vida, liberdade e bem-estar, atendendo às características e necessidades de cada espécie.


LÓGICA – Uma Ideia Coerente


Se valorizamos a vida não participamos, directa ou indirectamente, na exploração desta. Se valorizamos a Natureza e a existência humana não apoiamos indústrias que promovam a sua destruição. Se valorizamos o nosso bem-estar não consumimos produtos que possam ter um impacto negativo na nossa saúde.

É tão claro e simples quanto soa, especialmente quando agimos pelo motivo certo.
























Texto de C. Vantacich publicado pela revista "Boa Estrela", Maio 2014.









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