Se considerarmos os animais carnívoros como gatos, leões, cobras ou tubarões a resposta será “sim”. Toda a sua estrutura anatómica demonstra aptidão para caçar e digerir carne. São velozes para perseguir e alcançar as presas, possuem garras ou dentes afiados para golpear e rasgar a carne e também um sistema digestivo que lhes permite uma digestão ácida e rápida (ao contrário da nossa, neutra a alcalina e longa). Deste modo a carne de um animal, que entra imediatamente em processo de decomposição assim que é morto, pode ser digerida rapidamente e os efeitos nocivos do seu apodrecimento, eliminados pelo ph ácido da saliva e suco gástrico dos animais carnívoros.
Será também natural o ser humano alimentar-se de carne? Ouvimo-lo tantas vezes ao longo da vida que a maioria nem sequer o questiona. Faz parte da nossa cultura, tal como faz parte de outras comer larvas e insectos ou mesmo cães e gatos. Mas será realmente “natural” apesar de cultural? A cultura é um conceito que inclui hábitos propagados por linhas de transmissão sociais e familiares. Algo que é dito muitas vezes e repetido ao longo dos tempos, torna-se cultural e parte integrante do nosso sistema de crenças, o que não significa ser verdadeiro ou correcto. O que nos é natural é-o instintivamente, tal como acontece com outros animais. Um leão já nasce com o instinto de caça, não sendo necessário ensiná-lo a escolher o tipo de dieta que deve seguir durante a sua vida. No seu habitat natural todos os animais sabem instintivamente o que precisam e querem comer, incluindo nós, animais humanos.
Tomemos este exemplo: ao colocarmos um morango na mão de uma criança e na outra um pintainho, entre ambos, qual a criança comerá? E com qual dos dois a criança brincará? Se a criança brincasse com o morango e desse uma dentada no pintainho, o que pensaríamos dela? Estaria possuída ou sofreria de psicopatia, certo? Mas porquê, se é “natural” comermos carne?
Imagine agora uma situação parecida, mas consigo. Está numa sala onde se encontram um bezerro (vivo) e um cesto com uvas cerejas e morangos. O que lhe apetece comer, o bezerro ou a fruta? Se estivesse mais uma pessoa consigo na sala e de repente empunhasse uma faca, golpeasse o bezerro e, ali à sua frente, lhe cortasse a carne e a fosse comendo, abrir-lhe-ia o apetite ou provocar-lhe-ia repugnância? Talvez até lhe causasse dor assistir ao sofrimento e morte do pequeno e inocente animal, estarei errada?
São exemplos usados em palestras, por James Wildman, Educador Humano na ARFF (The Animal Rights Foundation of Florida), como forma de demonstrar que nem tudo o que aceitamos como “natural”, por fazer parte dos nossos preconceitos culturais, o é realmente. A maioria não conseguiria matar um animal e muito menos comê-lo de seguida. Muitos, nem conseguem comer uma animal cuja vida testemunharam, por esse motivo, a carne dos animais chega ao consumidor “disfarçada” de modo a que ninguém imagine o sofrimento por detrás de uma embalagem de bifes, fiambre, bacon, salsichas ou hambúrgueres. Mas não apenas o aspecto da carne tem de ser disfarçado para se tornar apetecível como também os nomes não revelam o que na realidade se está a comer e, especialmente, disfarça-seo seu sabor. Cozinha-se, tempera-se, adultera-se o mais possível o sabor da carne porque, naturalmente, o ser humano, não gosta de a degustar crua e sem temperos. É verdade que algumas pessoas “aprendem a gostar” da carne crua de animais, mas não lhes é inato, trata-se de um “gosto” aprendido e induzido e, ainda assim, é quase sempre servida com bastante tempero e sem sangue. Diria que “natural” é não apreciarmos o sabor da carne, uma vez que a anatomia da nossa espécie não oferece capacidade para caçar ou para a digerir convenientemente, o que, a longo prazo, pode trazer complicações graves de saúde e não raras vezes fatais.
São já incontáveis os estudos que associam o consumo de carne ao colesterol elevado, diabetes, cancro (do pulmão, cólon, próstata, entre outros), tensão arterial alta, doenças cardiovasculares, AVC’s, obesidade ou osteoporose. A OMS (organização Mundial de Saúde) e a UE (União Europeia) têm apelado para que se reduza o mais possível o consumo de carne pela nossa saúde e também pela do planeta, dado que a indústria de produção animal é a mais poluente de todas. A criação e produção de animais para consumo é responsável por 51% das emissões mundiais de gases com efeito de estufa, além de ser responsável por 91% da desflorestação da Amazónia e uma das maiores consumidoras de água doce.
Segundo um relatório publicado em 2006 pela Organização da Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO), a pecuária é uma das maiores contribuidoras para os mais graves problemas ambientais a todos os níveis, do local ao global, incluindo a degradação do solo, alterações climáticas, poluição do ar, poluição e escassez da água, extinção de espécies marinhas e terrestres e perda da biodiversidade. Deste modo, uma mudança nos hábitos alimentares que envolva a redução do consumo de carne e lacticínios é visto como a estratégia possível a fim de combater o aquecimento global. De acordo com o biólogo estadunidense Edward O. Wilson, da Universidade Harvard, só será possível alimentar a população mundial, no final do século, se todos forem vegetarianos. Estima-se que existam cerca de 600 milhões de vegetarianos no mundo. Trata-se de uma tendência humana, não apenas pela saúde ou pela vida do planeta mas especialmente devido ao crescente respeito pelos animais não humanos.
Segundo um relatório publicado em 2006 pela Organização da Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO), a pecuária é uma das maiores contribuidoras para os mais graves problemas ambientais a todos os níveis, do local ao global, incluindo a degradação do solo, alterações climáticas, poluição do ar, poluição e escassez da água, extinção de espécies marinhas e terrestres e perda da biodiversidade. Deste modo, uma mudança nos hábitos alimentares que envolva a redução do consumo de carne e lacticínios é visto como a estratégia possível a fim de combater o aquecimento global. De acordo com o biólogo estadunidense Edward O. Wilson, da Universidade Harvard, só será possível alimentar a população mundial, no final do século, se todos forem vegetarianos. Estima-se que existam cerca de 600 milhões de vegetarianos no mundo. Trata-se de uma tendência humana, não apenas pela saúde ou pela vida do planeta mas especialmente devido ao crescente respeito pelos animais não humanos.
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