domingo, 8 de abril de 2012

O Gosto Musical é Definido no Cérebro


Ouvimos música por todo o lado e nas mais diversas situações do nosso quotidiano: a fazer exercício, a comer, a arrumar a casa, a trabalhar (alguns), a dançar e até quando não fazemos nada. Ouvimos para nos estimular e acordar mas também para relaxar.

A música é um modo de comunicação que para além das palavras, ou em vez delas, usa melodias e ritmos para transmitir significados e especialmente emoções, de um cérebro para outro. A neurociência explica-nos que os sons da música são processados pelos mesmos circuitos que o cérebro usa para a linguagem falada:



Córtex Temporal
Córtex Pré-frontal Esquerdo

  • A região do Córtex Temporal que “ouve” os sons da fala é a mesma que “ouve” a música. (Imagem à esquerda)

  • No Córtex Pré-frontal Esquerdo é onde são analisados e preparados os sons da fala e também onde é analisada a sequência de sons da música. (Imagem à direita)

  • Outras regiões do Córtex Pré-frontal Direito, acompanham tanto a melodia da música quanto a da fala. (Imagem abaixo)

Córtex Pré-frontal Direito


A sequência de sons da melodia, tanto na música quanto na fala, transmite conteúdo emocional: alegre ou triste, delicado ou raivoso, etc.

Transmitimos emoções diferentes consoante o modo como dizemos a mesma frase. Por exemplo: "VEM AQUI AGORA!" dito como uma ordem, num tom altivo, áspero e monocórdico transmite uma emoção distinta da mesma frase “Vem aqui agora.” mas dita como uma sugestão, num tom suave, simpático e policórdico. O tom determina o tipo de emoção que se pretende transmitir.


O que é uma música interessante?

O cérebro gosta de trabalhar, uma vez que é a única forma de evoluir e de se potenciar e não se comporta de um modo diferente em relação à música. Analisar as estruturas musicais e descobrir padrões é uma atividade muito estimulante para o cérebro. Melodias compostas por sequências de sons demasiado simples e previsíveis, não oferecem qualquer estímulo, mas de igual modo não lhe é oferecido qualquer estímulo se ouvirmos melodias totalmente imprevisíveis sem nenhum padrão minimamente identificável.

Agora, saber qual o padrão musical complicado na medida certa, é uma questão pessoal e depende da experiência de cada cérebro. Depende do tipo de música que se costuma ouvir e da complexidade desta. Mas isso aprende-se. Quanto mais ouvirmos música complexa, mais capazes seremos de encontrar padrões musicais. È uma questão de não se ceder à preguiça.

Geralmente, durante a infância, começamos por ouvir ou por executar, músicas simples e repetitivas, mas com o tempo e a experiência vamos aprendendo a processar melodias mais elaboradas e a gostar delas.


Porque existem diferentes gostos musicais?


Para se gostar de um tipo de música não basta ter um cérebro que aprendeu a encontrar um padrão interessante num som. As memórias que associamos às músicas são igualmente importantes na determinação das nossas preferências. Se, por exemplo, ao longo da sua vida, associar música clássica a ambientes chatos e a gente enfadonha, com quem se preferiria não estar, o cérebro terá memórias negativas associadas à música clássica e instintivamente sentir-se-á impelido/a a descartar esse tipo de melodias.

Se, pelo contrário, ouvir música pimba estiver associado a festas alegres com pessoas divertidas, o cérebro regista sensações agradáveis associadas a esse tipo de música e de novo, instintivamente, sentir-se-á impelido/a a gostar desse género de melodias. O mesmo se passa com os restantes estilos musicais: Rock, Drum’n Bass, Trance, Metal, Étnica, Jazz, etc.


O que é o bom gosto musical?


Porque se diz que alguém tem um bom gosto musical quando é apreciador de Música Clássica, Jazz ou de outros géneros, dentro do Rock, Metal, Eletrónica, mas igualmente complexas?

Dizemos que alguém tem bom gosto, porque aprecia e ouve músicas que estimulam o cérebro e que por esse motivo lhe são favoráveis ao seu desenvolvimento. É por isso que se considera que alguém tem mau gosto quando é, por exemplo, apreciador de música pimba ou pop. O mesmo se passa com o cinema, literatura e outras formas artísticas/culturais.

Mas nada é irreversível! Quanto mais ouvirmos, vermos e apreciarmos formas artísticas/culturais complexas, mais aprendemos a gostar delas. É apenas uma questão de treinar o cérebro e de se começar a criar sensações positivas para que o cérebro as possa associar. Com a experiência, o cérebro pode mudar de opinião. E geralmente muda!

Será que ao contrário do que se diz, podemos então concluir que os gostos não só se discutem como se educam?



Fonte: A música e a neurociência - Dra. Suzana Houzel (bióloga, neurocientista, professora e investigadora de ciências biomédicas).


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