A todos nos foi incutida a ideia de que seria necessário beber muito leite para crescer saudavelmente, certo? Quantos de nós não ouvimos incontáveis vezes, das nossas mães e avós, que o leite nos fornecia cálcio e que dele precisaríamos para fortalecer os ossos? Gostando ou não, bebendo ou não, a maioria nunca colocou em causa tal afirmação. E como poderíamos, se somos levados a pensar que os médicos são detentores de “divino” conhecimento e se na televisão o afirmam diariamente?
Curiosamente, o ser Humano é o único animal que bebe leite de outras espécies e continua a bebê-lo depois de se tornar adulto. Contudo, o organismo humano deixa de produzir uma enzima denominada lactase, que sintetiza a lactose presente no leite, a partir dos 4 anos, sendo que esta desaparece totalmente do nosso organismo aos 9 anos. Idade a partir da qual deixamos de estar preparados para digerir o leite, muito menos o de outras espécies.
A ciência e o conhecimento estão em constante evolução. Os médicos e cientistas não são sábios por natureza e como qualquer ser humano, têm de estudar, aprender pela observação, pela experiência e também pelos erros. Quanto à televisão, bom, a televisão, infelizmente, cumpre muito melhor os seus interesses comerciais do que o seu papel supostamente educacional. Deste modo, temos de ser nós a filtrar o mais possível a informação que nos é transmitida, especialmente a que nos pode colocar em causa a saúde como a que diariamente nos é “vendida” pela publicidade, a respeito do leite.
O leite previne a osteoporose?
Osso com osteoporose. |
É um facto que o leite de vaca tem mais cálcio do que o leite materno humano, obviamente, não fossem as vacas animais que atingem cerca de 400 kg, mais de 6 vezes o peso médio humano! Mas é também um facto que este cálcio não fortalece nem é absorvido pelos nossos ossos, ao contrário do que se pensou durante muito tempo, pois as características e necessidades fisiológicas dos bezerros diferem bastante das nossas. Na verdade, o consumo de leite de vaca é um dos grandes causadores de osteoporose uma vez que corrói as células ósseas humanas.
Um estudo, de longa duração, levado a cabo pela Universidade de Harvard analisou 78.000 mulheres durante 12 anos, constatando que as que bebiam três copos de leite por dia, fracturaram mais ossos durante esse período do que as mulheres que raramente o consumiam. Da mesma forma, um estudo recente publicado no British Medical Journal mostrou que o consumo elevado de produtos lácteos dobra o risco de fractura da bacia.
O Dr. Lair Ribeiro, médico cardiologista e nutrólogo explica que o excesso de cálcio fornecido pelo leite de vaca, uma vez que não é absorvido pelo nosso organismo, além de corroer as células ósseas, deposita-se nas artérias aorta, carótida e coronária, podendo provocar a longo prazo enfartes, AVC´s (acidentes vasculares cerebrais) e arteriosclerose. Também o consumo de leite de vaca e seus derivados (lacticínios) é indicado como um dos grandes causadores do cancro da mama, ovários e próstata, diabetes e outros problemas relacionados com intolerâncias e alergias graves.
E se bebermos leite sem lactose?
A Sociedade Portuguesa de Gastroenterologia estima que mais de um terço da população portuguesa sofra de intolerância à lactose. Situação que ocorre por o organismo adulto não produzir lactase, a enzima que tem como função dividir a lactose nos seus componentes mais simples, permitindo a sua absorção pela corrente sanguínea. Quando esta deficiência se verifica, a lactose permanece inteira no intestino, causando desconforto abdominal, dor, diarreia, náuseas, flatulência e/ou inchaço abdominal. A ausência de lactose nos lacticínios pode evitar estes problemas digestivos mas não as doenças anteriormente referidas originadas por outros factores como o excesso de cálcio, de proteína animal, de hormonas e de outras substâncias nocivas ao nosso organismo presentes no leite de vaca industrial, como químicos e antibióticos.
A partir de que fontes podemos obter cálcio?
A noção de que o cálcio é fornecido exclusivamente pelo leite de vaca é fruto de um elaborado trabalho de propaganda por parte da indústria de lacticínios. Apesar de não poderem afirmar directamente que o leite de vaca é a única fonte de cálcio (o que seria propaganda enganosa), a indústria sugere esta noção ao consumidor.
Os vegetais de folha verde-escuro como brócolos, couve e espinafres são excelentes fontes de cálcio e estão acompanhados de uma série de outros nutrientes importantes para o metabolismo do cálcio, como o magnésio, o potássio e a vitamina K. As frutas secas (nozes, avelãs, amêndoas, figos, damascos, passas de uva), as castanhas e sementes (de girassol, linhaça, de chia, entre outras) são fontes bastante concentradas deste mineral e são muito fáceis de ser armazenadas, transportadas e consumidas. Ainda as leguminosas (soja, tofu, lentilhas, ervilhas, grão-de-bico e feijões), muitas delas tão presentes no menu de vegetarianos, além de serem excelentes fontes de proteína vegetal são também elas ricas em cálcio. O melaço-de-cana completa a lista oferecendo uma grande concentração do mesmo mineral.
O único leite que o ser humano deve beber é o da sua mãe que quando possível, deve amamentar o bebé, pelo menos, até aos dois anos por forma a que este receba as quantidades adequadas de cálcio e ómega 3 presentes no leite materno humano.
Quanto ao leite de vaca, é realmente um excelente alimento mas apenas para bezerros.
(Texto de C. Vantacich publicado na revista Boa Estrela de Janeiro 2014)
(Texto de C. Vantacich publicado na revista Boa Estrela de Janeiro 2014)
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