sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

A Televisão é o Ópio do Povo





Ao lerem o título deste artigo, com certeza recordaram-se de imediato da célebre frase que me inspirou a escrevê-lo: “A religião é o ópio do povo”. Na época em que Karl Marx a citou não havia televisão e era de facto a religião a maior “arma” controladora e pacificadora de massas.


Efeitos da religião e do ópio na sociedade
Segundo este intelectual alemão, de um ponto de vista social, a religião ajudava a controlar as mentes dos oprimidos e socialmente explorados. Estes, por meio de mensagens de fé, de esperança e da ideia vigente de que Deus “dá a cada um o que cada um merece”, mantinham elevados os seus ânimos prosseguindo tranquilamente as suas vidas e oferecendo de mão beijada o suado fruto de seus trabalhos, enquanto aguardavam, sem a menor intenção de revolta, pelo Dia do Juízo Final, no qual Deus os recompensaria com o almejado e merecido Céu.

Por Misha Gordin
Na altura, o ópio era uma droga muito comum e o seu efeito diminuía o sentimento de desconfiança e de euforia proporcionando uma sensação ilusória de bem-estar - tranquilizante, letárgica e de alienação - o que de acordo com Karl Marx, em tudo se assemelhava aos efeitos produzidos pela religião.

Contudo, nos nossos dias, não creio que ainda seja a religião o principal instrumento de controlo de massas, uma vez que perdeu muito do seu impacto social de outrora. Pelo menos nas civilizações ocidentais, já ninguém é socialmente ostracizado ou sequer criticado por não seguir ou adoptar uma religião, antes pelo contrário, inúmeros agnósticos e ateus gozam de respeitosas posições nas sociedades modernas.


Por Misha Gordin
Efeito da televisão na sociedade
Em sua substituição, penso que a televisão tem vindo ao longo dos anos a assumir activamente esse papel e, diga-se a bem da verdade, tem-no desempenhado de um modo brilhante, pois é, lamentavelmente, a actividade de lazer eleita pela maioria das pessoas e é também a que menos estimula o cérebro. Não só não o estimula como o remete para um estado vegetativo e quem o sujeitar a longos períodos neste modo, estará a contribuir para o seu progressivo atrofiamento. Qualquer outra actividade é mais estimulante para o cérebro, pois até durante o sono este está mais activo do que a ver televisão.


Censura e apelo emocional
Regra geral, as emissões são baseadas em programas sem conteúdo, como por exemplo as telenovelas e a maioria dos programas de entretenimento, os quais não oferecem estímulos necessários ao desenvolvimento das capacidades de raciocínio e imaginação, mantendo os telespectadores num estado letárgico. E note-se que letárgico não é relaxante, embora quem entre regularmente neste estado possa ter essa ilusão, uma vez que se sentirá sem energia após algumas horas de “bombardeamento” televisivo.

São exactamente estes factores que tornam a televisão num instrumento de controlo de massas tão poderoso. Sem estas capacidades intelectuais, as pessoas não questionam a sua situação socioeconómica nem concebem ou planeiam métodos de acção no sentido de garantir a não violação dos seus direitos profissionais e de cidadão. Em suma, não agem, não se manifestam nem questionam e aceitam passivamente recolher todo o lixo televisivo que lhes é despejado diariamente nas suas casas.

Quanto a mim, já nem a televisão uso para me manter informada. Prefiro fazê-lo por meio de jornais ou revistas de informação, mas sobretudo faço-o diariamente através da Internet. Pelo menos em Portugal, considero que os serviços noticiosos diários já não apresentam uma informação de qualidade, pois para além de serem condicionados pela censura determinada pelos interesses políticos da estação, apostam no sensacionalismo e numa abordagem superficial das notícias em que o apelo emocional é uma constante.

O intuito de querer informar o telespectador com imparcialidade perdeu-se em detrimento da intenção de o querer fazer “sentir” e geralmente, fazer sentir mal. O apelo emocional é excessivamente explorado como instrumento de persuasão, por quase todos os programas emitidos, incluindo a publicidade, pois perceberam que é muito mais fácil envolver emocionalmente o telespectador do que ser obrigado a apresentar constantes e novos produtos com conteúdos de interesse e de qualidade.


Manipulação através do deslumbramento
A máxima da televisão: deslumbrar/chocar/irar/emocionar, em nada contribui para a nossa saúde mental, com a agravante de que um telespectador deslumbrado, chocado, irado ou emocionado torna-se facilmente manipulável.

Um conselho de uma ex-telespectadora: desligue a televisão e desintoxique-se! Ouça música e leia um livro, um jornal, uma revista ou escreva e publique as suas experiências e opiniões, por exemplo num blogue, pesquise informação na Internet e aprecie as sua séries e filmes favoritos, sozinho/a ou acompanhado/a passeie na rua, praia ou campo ou vá ao cinema…

São apenas algumas sugestões mas com certeza qualquer uma destas actividades será mais saudável do que ficar a ver televisão.



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